23 de mai. de 2011

Inacabado - Parte 3

Mais uma tragada no cigarro. Sentia que minha pressao estava mais baixa que nunca. Estava adorando isso! A menina continuou ali, sentada ao meu lado, mexendo nos longos cabelos quase loiros. Ela os movimentava como quem queria chamar a atencao. Acho que havia lido demais sobre sinal com o corpo em mais uma madrugada de insonia. Virei o rosto como quem nao quer nada, para ter certeza de que era eu na mira dela. Vi que várias pessoas a observavam, o que nao era estranho. Algumas delas viraram o rosto quando encontrei seu olhar. Deviam achar que eu estava com ela. 'Que bobagem!' pensei. De todas aquelas pessoas que a observavam, eu era quem menos queria ela. Nada pessoal, só desilusoes pessoais. Alguém tao bonita devia dar um certo trabalho. Ela parecia do tipo que faz bem pra mente, mas maltrata o coracao. Havia tomado uma boa vacina contra isso. Estava agindo totalmente com a razao. Provavelmente ela estava esperando que eu puxasse assunto. Poderia fazer, para parecer simpática, mas nao! Estava muito bem com meu cigarro eventualmente entre os lábios, e muitas coisas passando pela minha cabeca. Ouvi alguns sussurros de relance, provavelmente alguém comentando da cena que estava acontecendo ali. Nao dei muita importancia.
A garota continuou ali. Às vezes me olhava de canto de olho. Fiz o possível para nossos olhares nao se cruzarem. Lembrei que nem o nome dela eu sabia. Normalmente já teria feiito a delicadeza de perguntar, mas meu estado de indiferenca estava ao extremo. Os pensamentos sobre ela voltaram a assombrar minha noite indiferentemente confortável. Mas a menina loira fez o favor de interromper meus pensamentos com o que eu desejava que ela nao fizesse. Ela tentou puxar assunto.
-E entao, voce vem sempre aqui no Soul?
-Nao acredito que voce tá tentando puxar assunto usando a pergunta mais velha da humanidade.
-Pelo menos alguém está tentando manter um diálogo.
Essa ultima frase me encomodou um pouco. Nessa hora poderia usar toda a angustia guardada dentro de mim para dar a resposta mais estúpida que conseguisse, e ficar sozinha a noite inteira, fumando todos os cigarros que restaram na minha carteira. Mas os cigarros acabariam, e infelizmente nao estou em condicao de gastar mais com bebidas e qualquer outra substancia que me deixasse entorpecida, ou parcialmente. Ela era linda, daria muito trabalho, mas a unica que ocupava minha cabeca agora nao era ela. Sabia que esse posto essa loira encantadora nao tiraria tao cedo. Entao porque nao me divertir? Iria fazer bem pro meu moral ser vista com uma mulher tao linda, e ela me manteria distraida por algum tempo.
-Às vezes.
-Ás vezes o que?
Ela deveria ter esquecido da pergunta que havia feito. Considerei o tempo que tomei entre a pergunta e a resposta e conclui que sim, ela havia esquecido.
-Venho às vezes aqui, costumo ir no Jackin.
-Ah sim, notei que nao te vejo sempre por aqui.
-Frequentadora assídua entao?
Estava sendo muito simpática, mas nao queria isso. Deixei a acidez tomar conta novamente de mim.
-Gosto daqui.


Sim, eu ainda nao terminei. E falta a parte dela. Quem sabe um dia a inspiracao volte.
Stay beautiful

E ahhhh!! Esse é meu, totalmente meu, completamente meu!

Inacabado - Parte 2

Eu sabia que estava com frio, mas simplesmente nao queria fazer nada para mudar aquilo. Achava que já tinha feito coisas demais para mudar muitas coisas. Eu desisti. Nada em mim foi covarde, nem mesmo as desistências: desistir, ainda que não pareça, foi meu grande gesto de coragem.
Mais uma tragada. Senti a fumaca que parecia densa preencher meus pulmoes fazendo minha pressao cair. Pressao baixa me acalmava, eu sabia que o cigarro causaria isso. Soltei a fumaca lentamente acompanhando seu rumo, sendo levada pelo vento até desaparecer. Vi o céu escuro e feio, cheio de nuvens que nao permitiam ver nenhuma estrela. Ela adorava olhar as estrelas. Quando lembrei disso percebi que mais um cigarro se fora. voltei novamente à bolsa, naquela confusao atrás do maldito maco que nao parava quieto, fugindo a cada vez que tentava encontrá-lo. Dessa vez deu mais trabalho achá-lo, mas finalmente consegui. Com um cigarro já na boca, tirando o isqueiro da bolsa, ouvi:
- Hey, voce pode me dar um cigarro?
Tinha uma carteira inteira ainda, nao faria falta. Dei o cigarro.
- Me empresta o isqueiro também?
- Quer o pulmao junto? - Meu senso de humos ácido nao se fora. Ainda bem que era soube o reconhecer.
- Esse ainda me resta, por mais algumas noites.
Notei um rosto familiar ao lado da pessoa que me pedira um cigarro, mas nao fiz esforcos para lembrar ou reconhecer. Se fosse realmente conhecida, eu lembraria logo. Enquanto dava o cigarro para a pessoa que me pedira, notei que ela me olhou. Sinceramente nao fazia diferenca ali. Eu estava bem, na fossa, mas curtindo a fossa. Lutei contra o vento para acender o cigarro. Já nao tinha ideia de quantos tinha fumado, mas nao deviam ser muitos, pois a carteira estava praticamente cheia. Contra a minha vontade, ela deu a volta na mesa e se sentou na cadeira ao meu lado.
- A Fer tinha razao.- Sabia que ela estava falando comigo.
- Em qual mentira voce acreditou dessa vez? - Aí eu percebi o quao ácido estava o meu humor, mas novamente nao me importei.
- Voce faz bico para fumar. - Ela estava olhando eu fumar? Quanta perda de tempo. Nao pude deixar de olhá-la. Ela é linda! Cabelos compridos, quase loiros de tantas mechas, olhos pequenos realcados pelo rímel. Seu nariz estava em perfeito acordo com seu olhos e a boca de lábios carnudos rosados, sem batom, brilho ou similares. Ela sentava de forma delicada, cruzando as pernas grossas, cuidando para nao cometer nenhum descuido. Usava uma saia preta de cintura alta, um sapato de salto considerável. Notei as maos delicadas, com unhas cuidadas e pintadas, mas nao notei a blusa que ela usava. Nao queria que ela percebesse que estava reparando nela.
- Quer um cigarro para me mostrar como fumar sem fazer esse maldito bico?
- Eu nao fumo, obrigada.

Inacabado - Parte 1

- Uma tequila gold, por favor?

Nao fazia ideia de como aquela coisa tao pequena poderia me deixar tao bem e tao mal ao mesmo tempo. Nao estou me referindo a ela, e sim à tequila. Aquele copo pequeno era tudo que eu desejava ali. Veio a tequila, o sal e o limao. Primeiro sal, depois limao, depois tequila? Ou primeiro sal, depois tequila, e entao limao? O barman percebeu a confusao que estava na minha cabeca, olhando para o copo sem reacao. "Se me permite a dica de um profissional: Sal, limao, depois tequila." Levantei a cabeca por um minuto para ver quem tinha me dito aquilo. Olhei para o barman, dei um leve sorriso falso e sal, tequila, limao. Nao havia pedido opinioes, estava muito bem na minha divagacao individual de qual seria melhor primeiro. Eu gostava dos limoes depois, mordia todos para ficar com o gosto cítrico na boca. Observei de canto de olho a reprovacao do barman que havia me dado a dica. A garganta queimando e a cabeca girando, era bem aí que eu queria chegar. Sabia que essa seria a terceira e ultima tequila da noite. Senti uma necessidade de me desapoiar do balcao e sentar em algum lugar, mas nao tinha certeza da minha coordenacao motora. Respirei fundo, analisei o caminho que teria que percorrer até a porta, e entao até uma mesa lá fora e levantei. Meu estomago deu uma leve revirada.
Um passo, depois o outro, um passo, auxílio da parede. Parece que as pessoas tem o dom de prever quando voce desbravará o bar inteiro bebada, só para elas sairem de seus respectivos lugares, dificultando a passagem.Uma porta, e a musica alta. Se a necessidade de sentar nao fosse tao grande, ficaria ali, ondem nenhum pensamento conseguia ser mais alto que a musica. Estava gostando tanto daquilo que, por um segundo fechei os olhos. Eu conhecia aquela musica, a letra estava quase saindo pelos meus lábios. Até que alguém esbarrou em mim e me lembrou que eu nao estava em condicoes de ficar ali, muito menos de olhos fechados. "Droga!" Nao devo ter dito alto demais. Minha visao embacada nao encontrou nenhuma cara feia olhando para mim como de quem nao tivesse gostado do comentário. Mais um passo, finalmente a porta pessada e preta. O vento me aliviou, tanto que esqueci do degrau, e quase cai. Estava visível para todos ali que eu nao estava no meu melhor estado, entao nem deram muita importancia. Uma cadeira, só o que eu precisava agora. Havia uma cadeira, e eu sentei. Agora a guerra seria contra a minha propria bolsa, para achar a carteira de cigarros. Esse era um dos motivos pelo qual eu a amava tanto. Ela nao precisava de bolsa, tinha tudo que precisaria numa noite nos bolsos da calca jeans que tinha, e a unica saia que teria que se preocupar era a minha. Ela nao gostava de saia, só em outras mulheres. Mas ela fica linda com aquele jeans escuro que eu adoro. "Nao posso mais pensar nela! Cade a droga dos cigarros agora?" Coordenacao motora para tirar um cigarro e acende-lo eu ainda tinha. Havia praticado muito ultimamente. Nunca fui de fumar, só quando saia. O problema é que estava saindo todos os dias. Uma tragada, a fumaca preenchendo meus pulmoes, e novamente a vontade desesperadora de ligar para ela havia passado. Pelo menos até o final desse cigarro. Era uma noite fria, mas nao congelante. Sentia o vento batendo nos meus bracos, arrepiando minhas pernas e baguncando meu cabelo, mas nao importava.

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