5 de dez. de 2011

Dez ondas para o amanhecer

Sozinho. Era exatamente ali que eu queria estar naquele momento. Longe de qualquer sinal de humanidade, onde tudo ao meu redor podia ser meu por pelo menos um momento. Aquele momento foi meu. Fiz questao de deixar todo e qualquer tipo de meio de comunicacao a uns metros de distancia, dentro do carro. Ali seria somente eu, a areia, o mar e o sol que deveria nascer em 10 ondas lentas, quebrando naquele imenso mar preto pela noite, deslizando até a beira da areia, quase molhando meus pés, e voltando para aquela imensidao. Nove ondas. Talvez tenha sido irresponsabilidade minha sair sem avisar ninguém. Tudo que eu precisava ali era eu mesmo. Um lugar onde nada atrapalharia meus pensamentos, onde nada me atrapalhasse por pelo menos um momento. Um momento. Eu poderia querer voce por mais um momento, e talvez aquele seria o ideal. Mas minha vontade de aproveitar tudo aquilo sozinho era maior. Oito ondas. Essa quase molhou meus pés descalcos estendidos na areia úmida. O vento estava gelado, quase cortando meu rosto, mas até isso eu estava aproveitando. Era tudo muito meu, como nunca havia sido. Era tudo que eu tinha naquele momento. Voce nao estava ali naquele momento. Droga! Novamente voce! Eu devia estar pensando em qualquer outra coisa: carros, emprego, família. Na praia ainda escura, vazia e fria. O movimento repetido do mar, sem nunca se cansar. Sete ondas. Dessa eu tive que me esquivar. Estava frio demais para molhar os pés. Eu até precisava me purificar na imensidao do mar, mas já estava me sentindo suficientemente limpo só por estar ali. Seis ondas. Elas estavam mais rápidas agora. Alguns pássaros comecavam a cantar. Que musica linda! O som do mar, o canto dos pássaros, o silencio da noite. Tudo numa harmonia indescritivel. Seis ondas e fui obrigado a sentar um pouco mais atrás. A poucos metros de mim havia mato junto com a areia. Por um momento tentei imaginar que praia seria aquela, e como eu havia chegado ali. Sem casas, sem pescadores. Só areia, mar, pássaros, árvores e eu. A essa altura, já era quase parte da paisagem. Quatro ondas. Havia esquecido de contar a ultima. Deitei na areia. O céu ainda estava estrelado, o que nao deixava a noite tao escura. Queria entender alguma coisa sobre estrelas, saber localizar constelacoes. Me escapou um sorriso de canto quando localizei as tres marias e o cruzeiro do sul. Fechei os olhos. Queria guardar em pensamento cada segundo. Cada segundo. Pude ouvir mais uma onda se aproximando. Com essa, seriam tres ondas para o amanhecer. Podia sentir o cheiro do mar, da praia. Era sinestésico. Respirei fundo e pude lembrar de vários momentos sentado em cadeiras de praias, com os pés enterrados na areia seca e fina, criancas brincando no mar e eu pensando 'o que mais agora?'. Sempre odiei praia, mas voce me fez aprender a gostar. Agora aqui estou eu, procurando refúgio na praia mais afastada que consegui encontrar, deitado na areia, contando ondas. Mais duas para amanhecer. A essa altura, o céu já deveria estar mais claro, mas de olhos fechados nao percebi mudanca nenhuma. Levantei e caminhei em direcao ao mar, deixando finalmente a onda que faltava molhar meus pés. Aquele momento nao me saiu da cabeca até hoje. Momento. Eu queria voce naquele momento, e na verdade eu queria só a mim. Só entao, quando mais duas ondas molharam meus pés, eu pude perceber que voce já era parte de mim. Treze. Quatorze. Quinze ondas. E amanheceu.

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